As Crianças mordem… Mas até que ponto os adultos que as estão acompanhando conseguem evitar?
Já escrevemos alguns artigos sobre mordidas na primeira infância, visto que esse é um assunto muito discutido, estudado e bastante recorrente no universo infantil.
O que é mais difícil? Receber a notícia que seu filho mordeu o coleguinha? Ou ouvir que seu filho foi mordido, na hora que vai buscá-lo na escola? Ou ter que dar a notícia, se você for a educadora, que uma criança mordeu a outra?
Trata-se de uma situação nem sempre fácil e que, por muitas vezes, leva ao constrangimento e até a perda da confiança na escola…
Esse assunto é bastante discutido e falado nos mais diversos meios de comunicação. As famílias e os educadores buscam fórmulas e orientações para lidar com a situação, como se houvesse uma receita mágica que pudesse resolver rapidamente o problema.
Alguns motivos pelos quais as crianças mordem:
- Forma de expressarem seus sentimentos, como: raiva, frustração, alegria, euforia, considerando que nos primeiros anos de vida as crianças ainda não dominam a linguagem convencional;
- Por não verbalizarem com fluência a linguagem, o corpo acaba sendo mais eficaz para resolver seus objetivos e atingir seus desejos, evitando lidar com as frustrações;
- As crianças pequenas estão adquirindo as regras de convivência social, e acreditam que o mundo funciona e existe em função delas. É um conflito interno para elas!!
- Por estarem na fase oral, descrita por Freud, e ser esta uma etapa do desenvolvimento que vai do nascimento até por volta de dois anos, onde as necessidades, percepções e modo de expressão das crianças estão concentradas na boca;
- Algumas pessoas acreditam que as crianças aprendem a morder com as próprias crianças, quando começam a frequentar a escola, ou quando convivem com irmãos ou primos mais velhos, o que até pode ter um fundo de verdade; mas, porque será que muitas outras crianças, que também são mordidas não repetem tal comportamento?
- Podemos considerar também que as mordidas são aprendidas na relação com os próprios adultos, quando estes praticam brincadeiras do tipo: “vou morder você, vou apertar sua bochechinha”, e as crianças assistem a essas formas de comunicação. A partir daí, podem repetir tais comportamentos usando esses meios para se comunicarem também.
O adulto pode evitar as mordidas? Como?
A verdade é que este comportamento faz parte do desenvolvimento normal dos pequenos (normalmente entre 1 ano e meio a 3 anos de idade). Mas nós não podemos ignorar e aceitar essas atitudes em nossas crianças, mesmo sendo normal nessa fase. Temos que mostrar a elas que morder não é algo possível e “bom”, e ensiná-las outras maneiras de se expressarem. De fato, educar não é tarefa fácil, mas nós, adultos, temos um papel importantíssimo para ajudar as crianças a superarem essa fase. Todavia, temos que estar preparados e tranquilos para isso…
Os adultos que cuidam das crianças, sejam os pais, os avós, as babás, ou os educadores precisam estar "inteiros" na relação. O "EU" organizado do adulto que se disponibiliza a uma responsabilidade tão grande, que é a de permanecer com crianças, minimamente necessita estar organizado emocinalmente, ter sua capacidade de pensar e agir plena para atender as necessidades psíquicas e físicas dessas crianças de forma harmoniosa e afetiva.
A segurança e a estabilidade que os adultos demonstram para os bebês nestas situações de mordidas são determinantes. Em contrapartida, pessoas fragilizadas, ansiosas, inseguras, ou não engajadas, tornam-se impotentes para construírem nas crianças a envoltura que precisam para se estabelecerem enquanto adultos afetivamente seguros.
Outro aspecto importante que precisamos considerar é a organização do espaço onde essas crianças permanecem. Quanto menos brinquedos e objetos tiverem e quanto mais desorganizados forem os espaços, maiores as chances de ocorrerem as mordidas, porque mais as crianças irão desejar "brincar" com o corpo dos amigos, além de ficarem ociosas e irritadas.
Lugares muito agitados, barulhentos e impróprios para crianças pequenas também favorecem a irritabilidade. Respeitar o limite das crianças, como: os horários de alimentação, sono e brincadeiras ajudará na organização da rotina, o que tranquiliza os bebês.
Aqui já temos várias dicas importantes e significativas para repensarmos as tão indesejadas mordidas:
- Os adultos precisam estar preparados e disponíveis emocionalmente para atender as crianças;
- O trabalho precisa ser planejado e pensado, o tempo todo;
- Os espaços precisam estar organizados, com a quantidade e a variedade de brinquedos e materiais, que atendam a cada faixa etária;
- Precisamos respeitar o tempo e a tranquilidade das crianças.
O fato de as mordidas fazerem parte de uma fase do desenvolvimento das crianças não significa que elas devem ser ignoradas ou aceitas pelos pais. No entanto, comecem a observar os espaços, os adultos e os locais que as crianças frequentam.
Fundamentalmente não podemos estigmatizar as crianças como ‘a criança mordedora’!
Flávia Vasconcellos Gusmão
Psicóloga – Diretora UNIEPRE