Nós somos o que comemos. E o que comemos? As propagandas organizam um conjunto de palavras, associadas a um conjunto de imagens, que conduzem nosso jeito de pensar, desejar e …de comer. Espantosamente, a propaganda define o nosso querer.
Antigamente, as crianças aprendiam com suas mães, pais e avós sobre todas as coisas essenciais da vida, inclusive sobre o que comer. Hoje, continuam aprendendo com eles; afinal, são eles que providenciam os pratos que são servidos. No entanto, com a vida moderna, em que os tempos dos adultos são cada vez mais dedicados ao trabalho, as práticas de alimentação têm mudado. Comidas prontas, comidas fáceis de fazer e de comer, mesmo que vazias de valor nutricional, têm ganhado cada dia mais as mesas brasileiras. Progressivamente, o que se come se distancia do que nossas avós diriam ser comida “de verdade”. Se somos o que comenos, em que estamos nos transformamos ao comermos tantos “produtos”, ao invés de comida? O prato industrializado seduz as famílias pela sua rapidez e praticidade, diante da realidade de que o tempo para cozinhar só tem diminuído. Assim, vai ficando para traz todo um conhecimento sobre o que seja comer bem. E a mídia, que precisa vender produtos e criar necessidades para os produtos que vende, invade as casas ditando novos padrões do que seja “melhor para nós”. A mídia dita, a população obedece. E a escola, o que faz? Qual nosso papel neste movimento desenfreado de modernidade que a tudo industrializa sob rótulos de “mais completo”, “com mais vitaminas” e toda sorte de sedução? À escola cabe ensinar a pensar criticamente e a escolher de maneira consciente. Para isso é preciso conhecer, para conhecer é preciso viver, é preciso falar sobre.
Durante o mês de março, no Espaço Criança Eurofarma Itapevi, as crianças participaram de uma atividade do programa “Sabor que Sustenta”, que tem como propósito incentivar a alimentação saudável na primeira infância. Fizemos pão de mandioquinha com gergelim. O programa procura aproximar as crianças dos alimentos in natura, conversando sobre os mesmos, incentivando-as a degustar o que é saudável, possibilitando sua ação direta na elaboração de receitas simples. A palavra tem força e a estamos utilizando para criar conhecimentos válidos para as crianças terem experiências alimentares de fato melhores.
Depois de pegar a mandioquinha nas mãos para observar de perto, cheirá-la, comentar com o grupo sobre as suas sensações, as crianças aprendem, a cada nova receita, que precisam lavar as mãos para, à medida que conversam e tenham possibilidades de ações novas, compreendam a estreita e importante relação entre o natural, a higiene e a saúde.
Depois da mandioquinha cozida e amassada, eles puderam provar este sabor genuíno, e ao longo de toda a receita atuaram colocando os ingredientes, mexendo, e depois sovando e modelando seu próprio pãozinho. Esperar crescer é um exercício para a vida! E maravilhar-se com o resultado também.
Enviamos para as famílias a receita para que possam, quiçá, realizá-la juntos, animados pela curiosidade e entusiasmo das crianças, prolongando até o lar esta rica experiência de preparar o alimento.
Mas, para mediar esta relação saudável entre a criança e os alimentos, acreditamos que precisamos ter uma equipe de educadores que também esteja em processo de reflexão. A formação dos professores é fundamental para interditar o automatismo determinado pelos padrões da indústria alimentícia. Também eles precisam parar e degustar, e conversar sobre o que comem.
A palavra tem força e a mídia sabe disto. E a usa para vender. Se nós também sabemos, temos que assumir o compromisso de trazer para a pauta da formação a palavra que questiona, a palavra que provoca a pesquisa e a abertura para novos sabores, a palavra que toca a consciência gustativa, porque, ao se rever, o educador passa a ter uma interação nova, não só com o alimento, mas principalmente com a mediação que faz entre a criança e o universo de possibilidades alimentares.
Sugestão de vídeos para acompanhar a formação:
Canal Do Campo a Mesa
[youtube width=”850″ height=”500″]https://youtu.be/FDFhDy2OI38[/youtube]
Propaganda que induz o adulto a desistir de ensinar as crianças a comer corretamente
[youtube width=”850″ height=”500″]https://youtu.be/y09YztpVEpY[/youtube]
Documentário A criança: a alma do negócio
[youtube width=”850″ height=”500″]https://youtu.be/KQQrHH4RrNc[/youtube]
Por: Marilene Negrini
Coordenadora Pedagógica
Espaço Criança Eurofarma Itapevi & UNIEPRE