As Crianças mordem sim!
Cabe a nós adultos sabermos lidar com as nossas angustias frente a essa situação.
Mais do que uma reação de raiva, as mordidas são uma forma de comunicação e de expressão de sentimentos. Nessa primeira etapa da vida, a criança ainda não domina a linguagem convencional. Então, a forma que ela tem para se expressar, para se comunicar e interagir com os outros é pelos meios físicos, como morder, bater, empurrar, puxar o cabelo, etc. Precisamos saber que as crianças, a partir do nascimento até 2 anos e meio, vivem a "oralidade", o momento de descobrir o mundo pela boca! E, é por meio dela, que a criança ri, chora, balbucia, aceita ou rejeita o alimento, experimenta sabores e texturas diferentes.
A mordida é uma reação normal de uma criança que quer extravasar seus desejos, anseios, expressar-se e/ou aliviar seu estresse e sua irritação.
O que a criança pretende ao morder um amiguinho não é agredi-lo, mas sim obter de forma rápida algum objeto, ou chamar atenção. As mordidas são usadas em situações diversas, e a criança vai avaliando quais os efeitos que elas têm; por exemplo: a criança morde e depois vê o que acontece; se ao morder ela consegue o que quer e qual é a reação do outro.
Como as crianças aprendem a morder?
Normalmente, elas podem ser aprendidas na relação com outras crianças, ou também com os próprios adultos. Às vezes alguns adultos praticam “brincadeira” dizendo: “vou morder você, vou apertar sua bochechinha”. As crianças assistem a essas formas de comunicação e, a partir daí, repetem tais comportamentos usando esses meios para se comunicarem também.
O que fazer se o seu filho for mordido por outra criança, ou se ele é o “mordedor”?
A mordida é sempre uma situação difícil para os pais de ambas as crianças. Os pais da criança “mordedora” se sentem envergonhados, e os pais da criança mordida ficam chateados pelo machucado do filho. A escola pode atuar como mediadora nas relações entre as crianças e seus familiares, minimizando os sentimentos negativos e criando situações para estabelecer limites, mostrando a importância do respeito, e do tratar bem o amigo que ficou triste por ter sido machucado. Tanto a escola, quanto os pais devem aproveitar essas situações para ensinar à criança as regras de convivência social.
Mas, se é uma reação normal, isso quer dizer que nós pais e educadores precisamos aceitar isso e não tomar nenhuma atitude a respeito?
NÃO! No entanto, é necessário aliviar a tensão que se coloca sobre esse tipo de situação, principalmente com relação à criança que mordeu, pois este gesto nada reflete em seu comportamento no futuro.
Quando a criança morde outra pessoa, é importante a mediação de um adulto para fazer com que ela reflita sobre o que fez e para que entenda que há outras maneiras de conseguir o que deseja. O adulto deve mostrar-lhe que há outros meios de se expressar, ou de conseguir o que se quer. Pode-se dizer, por exemplo: "se você não gostou do que ele fez, vamos dizer isso a ele", ou "você quer o brinquedo? Então, vamos pedir o brinquedo". O papel do adulto é transformar a atitude corporal em uma atitude mediada pela linguagem.
Importante lembrar que muitas vezes a criança que morde é a melhor amiga da que foi mordida. Na UNIEPRE, normalmente não contamos qual criança mordeu, justamente para evitar desgaste no relacionamento entre os pais e rótulos nessas crianças, pois entendemos que cabe aos educadores analisarem qual sentimento vem sendo expresso no ato da mordida: irritabilidade? Brincadeira? Disputa por um brinquedo? Ou até mesmo um ato de “carinho” que pode permear a relação dela com o amigo. Como educadores, sabemos como lidar com essa fase, informando e dialogando também com as famílias para que esse período difícil para as famílias possa ser de alguma forma aceito com mais tranquilidade por todos os envolvidos.
Por Flávia Vasconcellos Gusmão
Diretora Pedagógica – UNIEPRE