Todo ano a UNIEPRE proporciona aos colaboradores o PUPS (Programa Uniepre Primeiro Socorros). Neste ano fui convidada a participar de uma das palestras de abertura e escolhi abordar as diferentes concepções de criança e de educação que já trilharam o percurso da história, e de como a criança vem sendo compreendida e representada nas legislações no Brasil e no mundo.

Sempre que falo ou estudo sobre a história da criança e da educação, fico pensando como falarão as futuras gerações a respeito do como a criança e a educação foram vistas e consideradas no nosso século. O que eles pensarão de nós?

Acredito que melhor escrevemos nossa história, na medida em que somos capazes de conhecer o passado que reflete e embasa nossas ações presentes. Então neste momento, faço um convite para reflexões cronológicas dos acontecimentos.

Antes de iniciarmos uma retrospectiva histórica, é importante salientar que se buscamos espaço e tempo para falar sobre a criança e a infância, é porque acreditamos na sua importância e na concepção de que a criança é digna de valorização.

Todavia, esta forma de pensar não foi sempre assim. A humanidade fez uma longa caminhada até chegar neste olhar que estabelecemos hoje: o de considerá-la como pessoa de direito, inserida na história e produtora dela, presente nas leis; como forma de garantir seus direitos na sociedade.

Até o final do século XIII as crianças eram representadas como adultos em tamanho reduzido (muitos utilizam o termo “adulto em miniatura”). A infância era uma fase de transição que passava rápido e cuja lembrança era logo perdida. Neste mesmo período começou a surgir uma imagem de criança “anjo”, assim como, de criança nua, assexuada, numa ideia de criança sagrada. Até hoje essa concepção é percebida, por exemplo, nas falas: “A criança é um ser puro.” Mesmo a criança sendo um ser angelical neste contexto histórico, havia um alto índice de mortalidade infantil. Porém, como a criança era não vista ou ouvida pelos adultos, não ocorria comoção. A criança chegava a ser temida de tão desconhecida.

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Nos séculos XV e XVI a criança tornou – se personagem mais frequente nos registros históricos, ela começa a ser olhada. Entretanto, sempre aliada ao meio dos adultos.

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No século XVII a criança começa a ser representada sozinha. Dando à criança um lugar privilegiado. Aqui, elas ficam em destaque. Mostrando-nos algumas mudanças nos pensamentos sobre a criança e a infância.

 

Século XVII – O 1º sentimento da infância é o da “paparicação”. A criança é vista como “engraçadinha”. Esse sentimento de infância é encontrado nos dias de hoje. A forma infantilizada como adultos falam com as crianças, vídeos que são postados na internet e que colocam a criança muitas vezes em situações vexatórias, para que outras pessoas se “divirtam” vendo cenas que, muitas vezes, as ridicularizam.

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Século XVIII – Um 2º sentimento vinculado à infância: o de fragilidade e inocência. O apego à infância deixa de ser pela brincadeira e passa a ser pela preocupação moral. Aqui a criança deve ser educada de forma a agir como adulto, e por ser “pequena” a ação coercitiva prevalece. Muitas ações presentes nos dias atuais são embasadas nesse período da história: O “cantinho do pensamento”. Bater para corrigir. Gritar para colocar ordem.

 

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Século XIX – Neste século a infância era uma preparação para a vida adulta, o que exigia cuidados e etapas. Com a Revolução Industrial houve o aumento dos bens da classe média e com ela a necessidade de educar para que no futuro as crianças pudessem assumir os negócios da família. A escola então cumpre essa função. As crianças mais abastadas tinham este acesso à escola para se preparar para o futuro, entretanto, vale ressaltar que neste mesmo período histórico, as crianças menos favorecidas eram inseridas no mercado de trabalho – momento em que o trabalho infantil era comum e permitido. Isso demonstra que as crianças vivenciavam o “fluxo” social dos adultos à sua volta. Ou seja, não havia medidas públicas e pensamentos para a infância; a criança vivenciava aquilo que estava fadada a seguir.

Século XX – A infância recebe olhares atenciosos de vários campos do saber. Os estudos colocam as crianças no centro das atenções. A busca é de compreendê-las para melhor favorecer seu crescimento e seu desenvolvimento. Aqui a criança passa a ser um ser de direito, iniciando uma longa trajetória legal. As duas grandes guerras mundiais foram propulsoras na escrita de documentos que garantissem os direitos das crianças. É possível observar, por exemplo, grande preocupação legal contra o trabalho infantil.

Século XXI – Muitas conquistas já ocorreram, mas ainda é necessário acompanhar e evoluirmos a forma como compreendemos a infância e a criança. É urgente a reflexão para entendermos em que momento da história estamos ao agir, ao falar e ao tocar as crianças.

Como será a continuidade dessa história? Como será lembrada a criança do século XXI?

Essa resposta depende de todos nós, que estamos direta ou indiretamente no trato com as crianças deste século. Essa história com certeza deixará sua marca. A questão é: Que marca desejamos construir?

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Referências:
– História da infância e direitos da criança, escrito por Ana Cristina Dubeux Dourado – material do MEC
– "História Social da Criança e da Família", escrito por Philippe Aries.
http://histdainfancia.blogspot.com.br/

Texto por Patricia Bignardi
Coordenadora Pedagógica Geral da Uniepre

Colaboração Ana Cecília S. C. Santana
Coordenadora Pedagógica Brainfarma/Uniepre

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